O Sardão, o maior lagarto da Península Ibérica, é um habitante carismático de grande parte dos habitats terrestres do nosso País. Mais comum em meios mediterrânicos, tem sofrido um declínio que urge deter. Conheça as suas características e ecologia.
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
O Sardão (Lacerta lepida) é o maior lagarto da Península Ibérica, podendo alcançar 80 cm de comprimento total. De aspecto robusto, possui uma cabeça proeminente, membros fortes e cauda muito comprida.
O dorso é verde e amarelado, com manchas escuras. Nos flancos apresenta 3 ou 4 filas de manchas azuis (ocelos) por vezes rodeadas de preto. A cauda tem a mesma coloração do corpo excepto quando se trata de uma cauda regenerada (estes lagartos podem soltar a cauda se se sentirem ameaçados, após o que a cauda volta a crescer, regenerando-se). O ventre é esbranquiçado ou amarelado.
Os machos distinguem-se das fêmeas por possuírem uma cabeça consideravelmente mais larga e por terem o início da cauda mais largo.
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA
Encontra-se na Península Ibérica, no sul de França, e no noroeste de Itália.
Devido à perseguição a que tem sido sujeito, é apenas abundante nalgumas zonas isoladas. Nas zonas mais áridas e nalgumas regiões do norte de Portugal tornou-se uma espécie rara.
ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Esta espécie faz parte do Anexo II da Convenção de Berna. Em Portugal o seu estatuto é não ameaçado (NT).
FACTORES DE AMEAÇA
A perseguição directa pelo homem constitui a principal causa do declínio que se tem observado para esta espécie. Também sofrem uma elevada taxa de mortalidade por atropelamento já que estes lagartos utilizam com frequência as estradas por serem locais com boa exposição solar.
HABITAT
Aparece tanto ao nível do mar como em regiões de montanha. Ocupa principalmente zonas de mato mediterrânico com áreas abertas. Aparece também na periferia das cidades e em terras de cultivo. Prefere locais com abundância de abrigos (acumulações de pedras, muros, arbustos espessos) e com boa exposição solar, evitando locais húmidos e sombrios como as matas demasiado densas.
ALIMENTAÇÃO
Consome sobretudo insectos (perfazem cerca de 70% da sua dieta). Porém também se alimenta de caracóis, lesmas, lagartixas, cobras de água e outros répteis, pequenos mamíferos, ovos e crias de aves, frutas e restos vegetais. Os adultos também podem predar juvenis da sua espécie.
INIMIGOS NATURAIS
Entre os seus inimigos naturais incluem-se algumas cobras, várias rapinas (falcões, açores, milhafres e águias),outras aves como a cegonha e a garça comum, e mamíferos como o saca-rabos, o toirão, a fuinha e o lince.
REPRODUÇÃO
Quando uma fêmea entra no território de um macho, este persegue-a, mordiscando-a na parte traseira do corpo. Depois bloqueia-a para evitar ser mordido e dá-se a cópula. A gestação dura entre 71 e 102 dias, a fêmea deposita entre 5 e 22 ovos debaixo de pedras ou troncos, pode também enterrá-los sob terra solta. A incubação leva entre 2 a 3 meses. Nesta espécie, a maturidade sexual é atingida aos 3 anos e a longevidade máxima é de 20 anos.
MOVIMENTOS
Os machos são territoriais, expulsando os competidores violentamente, perseguindo-os e mesmo mordendo-os. As fêmeas podem visitar os territórios de vários machos.
ACTIVIDADE
O período de hibernação pode iniciar-se em Outubro ou Novembro e durar até Fevereiro ou Março. Durante os meses de Verão permanecem inactivos nas horas de maior calor, apresentando dois picos de actividade, um de manhã e outro ao fim do dia.
CURIOSIDADES
Em algumas zonas os sardões são utilizados para fazer um "licor de lagarto". Também é muito apreciado como iguaria.
LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO
São facilmente observáveis em locais com boa insolação, tais como estradas, muros, montes de pedras ou troncos de árvores. Contudo, assim que vêem algum movimento fogem o que torna difícil observá-los a curta distância.
O Lagarto-de-água é um endemismo ibérico, característico das margens de linhas de água. Possuindo uma distribuição fragmentada, diversos núcleos isolados encontram-se ameaçados e requerem acções de conservação urgentes.
O Lagarto-de-água, Lacerta schreiberi, é um endemismo ibérico (só ocorre na Península Ibérica), cujos principais núcleos populacionais ocupam o quadrante Noroeste da península, de influência climática marcadamente atlântica. Na metade mais meridional, apenas existem alguns grupos isolados, geograficamente muito dispersos, em geral circunscritos a algumas regiões montanhosas tais como as serras de Monchique e S. Mamede, em Portugal, e as serras de Las Villuercas, San Andrés e Montes de Toledo, em Espanha, onde as condições climáticas ainda permitem a sua persistência. Trata-se assim de uma espécie de elevado interesse conservacionista, incluída no Anexo II da Convenção de Berna, Anexo II e IV da Directiva Habitats (Directiva 92/43/CEE) tendo contudo o estatuto de conservação de Não-Ameaçado (NT) em Portugal.
Distribuição
O Lagarto-de-água encontra-se de uma forma generalizada em todo o centro e norte de Portugal, a norte do rio Tejo, desde o nível do mar até aos 1800m no Planalto Central da Serra da Estrela. No entanto, na metade sul do país possui várias populações isoladas: (1) a norte do rio Tejo - Serras de Sintra e Montejunto e Caldas da Rainha; (2) litoral alentejano e algarvio - Serras de Monchique, Brejeira e Cercal; (3) interior alentejano - Serra de S.Mamede.
Habitats
A espécie ocupa preferencialmente as margens de linhas de água em que a vegetação ripícola possui características marcadamente atlânticas, Amieiros (Alnus glutinosa), Vidoeiros (Betula pubescens), Carvalho alvarinho (Quercus robur), Carvalho negral (Q. pyrenaica) ou Fetos-reais (Osmunda regalis). Ocupa desde vales agrícolas de montanha até paúis de baixa altitude.
Fig. 2 - Distribuição do Lagarto-de-água na Península Ibérica e Portugal
Efectivos Populacionais nos Núcleos Isolados
As estimativas existentes apontam para mais de 50000 indivíduos nos núcleos isolados de S.Mamede e Monchique e apenas cerca de 3700 para o Cercal. Para este último, a estimativa existente é baixa, sendo mais preocupante porque este efectivo está distribuído por 3 ribeiras isoladas sem quaisquer hipóteses de contacto entre si.
Factores de Ameaça
Os principais factores de ameaça ao Lagarto-de-água e principalmente aos seus habitats podem ser considerados em cinco grupos:
(A) Obras de Regularização das Margens das Linhas de Água. Estas obras implicam quase sempre o cimentar das margens, com o abate da vegetação natural. As margens das linhas de água constituem precisamente o habitat preferencial do Lagarto-de-água, pelo que qualquer acção no sentido da sua alteração poderá afectar a permanência da espécie.
(B) Construção de Barragens. Esta construção implica normalmente a submersão de grandes áreas a montante, criando frequentemente descontinuidades entre as populações localizadas a montante e a jusante da barragem. A construção de pequenos açudes, com pequenas alterações na vegetação natural ripícola, não representa uma grande ameaça.
(C) Descargas de Efluentes. A poluição quer seja doméstica, industrial ou agro-pecuária prejudica gravemente a qualidade da água. Embora o Lagarto-de-água habite as margens das linhas de água, é óbvio que directa ou indirectamente é sempre afectado pela qualidade da água. A descarga sistemática de efluentes provenientes de suiniculturas e esgotos urbanos contribui marcadamente para a degradação das populações de toda a região Oeste a norte do rio Tejo;
(D) Despejo de lixos e entulhos, extracção de inertes e a construção de estradas de elevado impacto na destruição do habitat, constituem outros factores adicionais de ameaça aos habitats do Lagarto-de-água;
(E) Alteração da Vegetação das Margens das Linhas de Água. O corte exagerado da vegetação ripícola visando o aproveitamento de terrenos para fins agrícolas e pastoreio assim como a plantação indiscriminada de espécies introduzidas (especialmente o Eucalipto) nas linhas de água, afecta a presença do Lagarto-de-água e constitui uma séria ameaça à sua preservação. A plantação de Eucaliptos atinge proporções alarmantes no isolado Monchique/Cercal, estando praticamente toda a área de ocorrência do Lagarto-de-água nestas serras coberta por esta exótica. A sua plantação, se não puder ser totalmente evitada, deverá pelo menos respeitar uma faixa de segurança mínima de 50m para cada lado das linhas de água.
Áreas Prioritárias para a Conservação
As áreas prioritárias para a conservação incluem cinco níveis de prioridade de conservação, abrangendo o mais importante 15% da área de distribuição da espécie, ou seja cerca de 6% da área de Portugal. As áreas de mais elevada prioridade localizam-se principalmente em três zonas:
(A) A Norte do rio Douro: serras da Peneda, Soajo, Amarela, Gerês, Cabreira, Barroso, Larouco e Alvão;
(B) Entre os rios Douro e Tejo: serras de Montemuro, Caramulo, Estrela, Lousã e Açor e a região compreendida entre Castro Daire, V.N. Paiva e Moimenta da Beira;
(C) Isolados populacionais de S. Mamede, Monchique, Cercal e Sintra.
As populações mais ameaçadas são as que se encontram mais afastadas das populações centrais e ocorrem em concelhos com elevada densidade populacional humana. Nesta situação estão as populações dos concelhos e áreas circundantes do Porto, Coimbra, Viseu, Caldas da Rainha, Torres Vedras e Mafra. A população de Lagarto-de-água de Sintra, estando isolada e num concelho onde a densidade populacional humana é elevada, surge como área de grande risco e onde a extinção é muito provável a curto prazo. O núcleo isolado do Cercal apresenta também um risco de extinção elevado, principalmente devido ao seu reduzido número de efectivos e ao seu isolamento.
Fig. - Áreas prioritárias para a conservação e de risco de extinção do Lagarto-de-água em Portugal
Estratégia de Conservação
O factor mais importante para a preservação do Lagarto-de-água é sem dúvida a protecção eficaz dos seus habitats, que são preferencialmente as margens das linhas de água. Esta protecção deve incluir a proibição do corte exagerado da vegetação ripícola, construção de obras de elevado impacto nas linhas de água, assim como prevenção da poluição aquática. Estas medidas se não implementadas de uma forma geral, deverão pelo menos ser atingidas dentro do Sistema Nacional de Áreas Protegidas (SNAP) e da Rede Natura 2000 (RN2000). A legislação portuguesa considera as margens das linhas de água como sendo parte integrante da Reserva Ecológica Nacional (REN) o que nesta perspectiva facilitaria a conservação da espécie. No entanto o desrespeito pela REN é muito frequente, mesmo por parte das entidades oficiais.
As áreas litorais a norte de Sintra não justificam a sua inclusão no SNAP/RN2000, visto que ocorrem em áreas densamente povoadas, pelo que a criação de Reservas Regionais, sob jurisdição das Autarquias, seria a solução mais eficaz. Visto que a protecção da espécie pode ser atingida pela preservação de um habitat relativamente restrito, a vegetação ripícola, que já possui até um enquadramento legal (REN), então deveria ser relativamente fácil o estabelecimento de Reservas Regionais.
Conservação dos Isolados Populacionais
A primeira medida de gestão dos isolados populacionais, seria a inclusão das suas áreas de maior prioridade no SNAP, mais concretamente da região de Monchique/Cercal e no que respeita ao Parque Natural de S.Mamede, o seu alargamento de forma a incluir algumas das suas actuais áreas marginais. O isolado de S.Mamede apresenta um elevado número de indivíduos distribuídos por uma área aparentemente não fragmentada. Contudo várias áreas de habitat mais degradado são passíveis de acções de recuperação, sobretudo nas ribeiras acima dos 600m de altitude, sendo pois alvos potenciais para eventuais reintroduções com indivíduos de populações adjacentes que se encontrem com um bom número de efectivos. Estas acções têm a vantagem de prevenir a fragmentação das populações, aumentado as zonas de contacto entre bacias. Este problema, numa zona como S.Mamede, poderá ter sido consideravelmente aumentado com a construção da barragem da Apertadura e pelas sucessivas florestações com Pinheiro-bravo, acções estas que foram realizadas em pleno Parque Natural.
No isolado de Monchique, a fragmentação populacional é mais evidente sobretudo nas áreas afectadas pelo grande incêndio de 1995. Nestas ribeiras, aconselha-se a recuperação dos habitats e a suplementação das populações aí existentes. Esta acção poderá ser realizada por translocação de indivíduos de populações de maiores dimensões (dentro do isolado). Em habitats em bom estado de conservação, sugere-se ainda a reintrodução de indivíduos como forma de minimizar os problemas resultantes de fenómenos catastróficos, como os incêndios. A própria população principal encontra-se sujeita a constantes agressões, tais como construção de estradas de elevado impacto ou a plantação de eucaliptos que não respeitam a área de REN para as linhas de água. Nestes casos, a monitorização das populações é essencial por forma a detectarem-se atempadamente possíveis factores de ameaça e ainda como processo de acompanhamento de uma eventual acção de suplementação.
As três populações, isoladas entre si, da Serra do Cercal - Corgo das Selas, Corgo dos Godins e Ribeira do Torgal - apresentam no total menos de 3700 indivíduos. Nesta caso justificam-se portanto acções mais urgentes e extensivas. Sugere-se que estes núcleos sejam reforçados com indivíduos criados em cativeiro, assim como que seja feita a reintrodução de indivíduos em habitats adjacentes aos actualmente ocupados. A recuperação de habitats basear-se-ia fundamentalmente em dois tipos de acções: limpeza dos grandes silvados que envolvem alguns troços do Corgo das Selas e Corgo do Vale de Água e a recuperação das margens, em alguns troços, do Corgo dos Godins, os quais foram alterados pela plantação de eucaliptais.
A cobra-rateira (Malpolon monspessulanus) é a maior serpente da fauna ibérica, ultrapassando os dois metros de comprimento. Possui uma cabeça estreita, sulcada no dorso e lateralmente e tem olhos grandes e escamas lisas. Possui uma cor castanha-esverdeada com uma grande mancha escura no terço anterior do tronco.
A cobra-rateira é uma serpente robusta, ágil e que pode ser agressiva quando provocada, bufando e podendo morder fortemente. Ao contrário da maioria das serpentes da fauna portuguesa, a cobra-rateira produz um veneno neurotóxico, com o qual paralisa as suas presas. De destacar que a cobra-rateira é opistoglifa, ou seja, tem os dentes inoculadores de veneno localizados na parte posterior das maxilas, não conseguindo injectar o veneno no homem em caso de mordedura, salvo raríssimas excepções, não sendo por isso considerada perigosa.As presas da cobra-rateira são essencialmente mamíferos como ratos e coelhos, outras serpentes e lagartos e pequenas aves.
A cobra-rateira possui hábitos diurnos e ocorre numa grande variedade de ambientes, desde bosques, matagais mediterrânicos, estepes e campos cerealíferos. Encontra-se por toda a orla mediterrânica com excepção da península Itálica, e para Oriente atinge o Irão. Ocupa toda a Península Ibérica, excepto uma estreita faixa Setentrional, e em Portugal distribui-se amplamente por todo o território, sendo escassa ou mesmo ausente nas zonas de menor altitude da faixa costeira de influência atlântica, entre Leiria e o Porto. Em altitude distribui-se desde o nível do mar até aos 1520 metros na Serra da Estrela distribuindo-se por todo o Parque Natural, onde prefere locais com densa cobertura arbustiva e grandes rochas, que utiliza como refúgio, encontrando-se também, nos silvados, nos taludes de caminhos, bosques abertos e giestais.
A cobra-rateira é ovípara e efectua posturas de três a 18 ovos. Segundo um estudo realizado pelo Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal, a respeito desta espécie, pressupõe-se que a cobra-rateira apresenta um amplo período de hibernação, desde meados de Outubro até meados de Março, e possui um ciclo anual unimodal onde metade das observações concentraram-se em Junho, correspondendo a machos durante o período de acasalamento, com um ligeiro aumento das observações desta espécie durante os meses de Setembro a Outubro, devido à eclosão dos ovos e dispersão dos recém-nascidos.
Relativamente à conservação desta espécie de serpente, a cobra-rateira está classificada como Pouco preocupante (LC), pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, e apesar de muitos exemplares acabarem por morrer atropelados e serem mortos deliberadamente pelo homem, as suas populações podem considerar-se estáveis na maior parte do país.
De destacar ainda que a maior parte das serpentes da fauna ibérica, com excepção das víboras, são áglifas, que significa que os dentes são maciços e não possuem glândulas produtoras de veneno, sendo portanto consideradas como não venenosas e não constituindo nenhum perigo para o homem.
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